A selva amazônica abrigou muitas civilizações pré-colombianas

 

Antes da chegada dos colonos espanhóis à América do Sul, algumas tribos nômades viviam ao redor da Amazônia, deixando intocadas as florestas tropicais vizinhas. Pelo menos, era o que se acreditava até recentemente.

Um novo estudo apresenta uma teoria completamente diferente. Parece que a floresta amazônica era muito mais povoada do que pensávamos e que era o lar de numerosas aldeias e geoglifos cerimoniais.

Financiado em parte pela National Geographic Society, o estudo foi publicado hoje na revista Nature Communications. Ele desafia a teoria comum de que a floresta amazônica era escassamente povoada antes da chegada de Colombo. Essa teoria é dura, pois ainda hoje prevalece, apesar da evidência de grandes vilarejos interligados que datam do século 16.

Muitas pessoas acreditam que, antes da chegada dos europeus ao Novo Mundo, a Amazônia era intocada e virgem. Uma nova pesquisa mostra que a região era, na verdade, muito populosa. Antes da chegada dos colonos espanhóis e portugueses à América do Sul, algumas tribos nômades viviam ao redor do rio Amazonas. Pensava-se que eles eram muito poucos.

Novas pesquisas apresentam uma teoria bastante diferente. Parece que a floresta amazônica abrigava muitas aldeias.

Financiada em parte pela National Geographic Society, a pesquisa foi publicada na revista Nature Communications. Ela desafia a teoria dominante de que a floresta amazônica era muito pouco populosa antes da chegada de Cristóvão Colombo. Essa teoria persiste até hoje, apesar das evidências da existência de grandes aldeias interconectadas datadas do século XVI.

“Para muitas pessoas, era um paraíso intocado”, explica Jonas Gregorio de Souza, arqueólogo da Universidade de Exeter, que participou do estudo. A maior parte da área está coberta por uma vegetação densa, o que impede que os arqueólogos descubram mais. É difícil afastar-se do rio e adentrar profundamente na selva.

Mas isso é tudo no passado. A equipe usou imagens de satélite para tentar identificar geoglifos antigos, características de terra muito provavelmente usadas para cerimônias religiosas, em áreas inexploradas do estado brasileiro de Mato Grosso. Com as coordenadas desses geoglifos potenciais em mãos, eles viajaram para o campo, uma região onde a terra é hoje amplamente utilizada para a agricultura. Para cada um dos 24 sítios que visitaram, os arqueólogos sabiam que tinham feito uma descoberta muito importante. “Tudo isso faz sentido”, disse Jonas Gregorio de Souza. “Nós sabíamos que este era um lugar especial.

Em um dos sítios arqueológicos, os arqueólogos foram ainda mais longe. Encontraram cerâmica e carvão vegetal, indicando que o local era habitado há cerca de 1500 anos.

Com suas conclusões, a equipe quis determinar onde outros locais semelhantes poderiam estar localizados. Para isso, criaram um modelo computacional que levava em conta vários parâmetros, tais como altitude, pH do solo e a quantidade de precipitação. O modelo revelou que os geoglifos foram provavelmente construídos em áreas de grande altitude, com grandes variações de temperatura e estações do ano bem definidas. Para isso, criaram um modelo de computador que levava em conta vários parâmetros, tais como altitude, pH do solo e a quantidade de precipitação. Isso revelou que os geoglifos foram provavelmente construídos em áreas de grande altitude, com grandes variações de temperatura e estações do ano bem definidas.

O modelo digital também determinou que os indígenas não teriam necessariamente construído esses geoglifos perto dos rios, o que vai contra as teorias atuais. Segundo o modelo, existem 1300 geoglifos e aldeias numa faixa de quase 400.000 km² no sul da Amazônia. Apenas um terço deles foi descoberto até o momento.

 

As densidades populacionais também são mais altas do que o esperado. A equipe de arqueólogos estima agora que entre 500.000 e 1 milhão de pessoas já habitaram 7% da bacia amazônica, o que contradiz as últimas estimativas que colocam a população de toda a bacia em cerca de 2 milhões.

Dada a localização dos locais potenciais, o modelo de computador sugere a existência de uma série de aldeias fortificadas ligadas entre si ao longo de mais de 1.770 km. Pensa-se que essas aldeias se tenham desenvolvido entre 1200 e 1500 a.C. “Precisamos repensar a história da Amazônia”, disse José Iriarte, arqueólogo da Universidade de Exeter, National Geographic Explorer e autor principal do estudo, num comunicado à imprensa.

O que aconteceu com esses habitantes da floresta tropical? Jonas Gregorio de Souza acredita que todos eles morreram em conseqüência da conquista européia da região. Aldeias inteiras foram dizimadas por doenças e genocídios. Muitas outras pararam completamente de cultivar. “Não podiam ficar muito tempo no mesmo lugar”, disse o arqueólogo. Mas graças aos vestígios que deixaram, poderemos aprender muito sobre a civilização deles, que agora desapareceu.

Geoglifos

Grande figura feita no chão (geralmente com mais de quatro metros de extensão), em morros ou regiões planas. Sua construção pode se dar pela disposição organizada de sedimentos (como pedras, cascalho ou terra), criando um desenho em relevo positivo, ou pela retirada de sedimentos superficiais de modo a expor uma rocha subjacente, criando um relevo negativo. Em ambos os casos a formação da imagem se dá pelo fato de que a região trabalhada se destacará do solo natural do local, formando o desenho.

No Brasil os geoglifos podem ser encontrados nos estado do Acre, Rondônia e Sul do Amazonas. Descobertos em 1977, durante uma varredura arqueológica na Amazônia Ocidental, por Ondemar Dias, Frankly Levy e Alceu Ranzi. Nos últimos anos, em pesquisas coordenadas por Denise Schaan, descobriu-se uma quantidade muito maior, e com outras figuras, além das circulares. São círculos, quadrados, octógonos, dentre outras formas. Com o avanço das pesquisas, percebeu-se que estas formas estavam associadas, em sua maioria, a outros vestígios para além dos formatos.

Os investigadores descobriram um total de 523 geoglifos no estado do Acre.

Geoglifos em terras desmatadas e em fazendas no Acre

Geoglifos em Nazca

Geoglyphs and mounded ring villages. a LiDAR digital terrain model of the Jacó Sá site showing geometric ditched enclosures, walled enclosures and avenues. Scale bar = 100 m.